Guadalupense é a 1ª enfermeira trans com nome social na carteira profissional
Formada em enfermagem e com pós-graduação em obstetrícia, a piauiense
Daniele Ribeiro de Araújo decidiu aos 29 anos lutar para ser reconhecida
profissionalmente pelo seu nome social. Segundo o Conselho Federal de
Enfermagem (Cofen), ela foi a primeira enfermeira a conquistar esse
direito no Brasil. Mesmo trabalhando na área, ela sentia que isso era o
que faltava para ter o respeito dos colegas.
Nascida em Guadalupe, a 345 km de Teresina,
a segunda filha de quatro irmãos e de mãe solteira, Daniele lembrou que
a luta pelos seus direitos começou ainda quando definia a sua
sexualidade. Ao assumir ser transexual, ela sofreu muito preconceito na
sua cidade, mas não desistiu de correr atrás. Mudou-se para a capital,
vendeu roupas para pagar a faculdade e se formou em enfermagem.
"A minha vida não é diferente das outras transexuais, dia após dia a
gente sofre preconceitos, mas isso não impediu de seguir adiante.
Recém-formada tive a oportunidade de trabalhar na estratégia da família e
com os meus pacientes nunca tive dificuldade, eles me chamavam de
enfermeira ou doutora Dani. Enquanto alguns colegas de trabalho, agiam
ao contrário e faziam questão de dizer que o meu nome não era Daniele,
por isso, iam me chamar pelo meu nome de registro", lembrou a
enfermeira.
A primeira tentativa de registrar o nome social na carteira
profissional ocorreu ainda em junho de 2006, quando entrou com o pedido
no Conselho Regional de Enfermagem (Coren) do Piauí. Daniele esperou
sete meses para ouvir um 'não', mas no final de 2016 a partir da decisão
do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) pelo direito para transexuais
e travestis e ela decidiu tentar de novo.
Seis meses depois, em junho de 2017, veio o reconhecimento e para
surpresa de Daniele, ela era a primeira enfermeira transexual a
conseguir o registro no país. Além da carteira profissional, o crachá e
carimbo da enfermeira são com o nome social.
"Ser respeitada no meu ambiente de trabalho é maravilhoso, porque eu
amo o que faço. Eu sempre esperei por esse momento, porque eu acho que
faltava só isso para alguns colegas entenderem e respeitarem a minha
identidade de gênero. É um direito que a gente tem, ele deve ser cobrado
daquelas pessoas que não acompanham o tempo", declarou emocionada.
Depois de conseguir o registro, Daniele acredita que mudou o tratamento
das pessoas e deu mais credibilidade para continuar lutando pelos seus
direitos. Atualmente a enfermeira passou no processo seletivo para ser
professora presencial do Mediotec em Guadalupe, programa do governo
federal. Ela vai lecionar no curso técnico de agente comunitário de
saúde, pelo Instituto Federal do Piauí (IFPI).
"Eu ter sido a primeira enfermeira com o nome social no registro
profissional é importante pra mim, porque dá visibilidade para que
outras corram atrás desse direito e do respeito. A luta não para e ainda
temos muitos outros direitos para serem conquistados. Já aqueles que
não acreditam e não querem nos respeitar, a gente sabe o que fazer com
eles: ignorar", comentou.
Daniele Ribeiro: nome social na identidade |
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